terça-feira, 7 de abril de 2015

Na estrada

Na primeira vez que eu me mudei, eu tinha 12 anos. 

Como meus pais sempre moraram no interior, quando chegou a hora de eu começar a 8º série, eles me enviaram pra estudar na cidade-grande-não-tão-grande que é São Luís. Então, eu não estava só me mudando; eu estava saindo da casa dos meus pais, da minha casa, pra morar com uma tia que não ia nem um pouco com a minha cara e que não tinha saco algum pra lidar com a adolescente emburrada que eu estava me tornando. Promissor, não é? Tinha tudo pra dar errado e deu mesmo, tanto é que quando eu tinha uns 16 anos, ela finalmente me expulsou de casa. 


Eu sei, é algo horrível, e olhe que tô poupando vocês de todos os detalhes sórdidos. Só toquei no assunto porque hoje em dia, juro, até acho graça da história toda e do fato de ela ter sido (e ser até hoje) muito mais imatura que eu. E também, cá entre nós, foi ali que a minha vida começou a melhorar. Mesmo sem saber, ela me fez o maior favor da minha vida.

Como eu virei uma sem teto, meu pai se viu obrigado a finalmente negociar o apartamento que ele vinha enrolando (e antes não tinha condições$) de comprar. Mas como todo bom apartamento na planta, esse levou anos até ficar pronto. Nesse meio tempo, eu fiquei morando na casa de um casal de tios - a meu contragosto, é verdade, considerando que eu fiquei bem traumatizada com a primeira experiência de morar na casa alheia. Nessa época, o baby brother também veio pra São Luís, então ficamos os dois testando a paciência dos meus tios, que resistiram bravamente e sempre nos trataram muito bem, obrigada. 

Lá pra 2011, baby brother e eu finalmente fomos morar no apartamento que meu pai comprou. Depois de muita bagunça e objetos perdidos, ficamos os dois lá, eu com 19 anos e ele com 16, aprendendo a cozinhar, varrer a casa e a dormir sem deixar a porta da sacada aberta. Que fase, meus amigos. A gente tinha muito ajuda da minha mãe, que passava temporadas com a gente; de uma prima, que passou mais uns dias por lá; de Francisco, que lavou muita louça nessa época. Mas né, estávamos sozinhos.


Agora em 2015, eu, achando pouco já ter morado em três casas tão diferentes ao longo dos meus parcos 23 anos de vida, me mudei de novo - esse post, na verdade, era sobre isso, mas acabou virando sobre minha vida inteira. A ordem natural das coisas é sim de que eu me mudasse, mas pra uma casa minha, não é? Afinal, eu já trabalho, tenho salário, posso me bancar... O problema é que, justamente por causa do trabalho, eu tive que vir morar em uma cidade do interior com o meu sogro e meu cunhado - e sem Francisco, o que torna tudo ainda mais estranho.

Na verdade, eu moro com eles durante a semana. Depois do expediente da sexta, eu encaro 4 horas de ferry boat e ônibus pra passar terminar o dia em São Luís e passar o sábado no meu apartamento, com meu irmão, ou no flat de Francisco; no domingo à noite, volto a rever o ferry e o busão e já durmo na casa do meu sogro.

Repito essa rotina em looping infinito, de novo e de novo. Viver de malas prontas não é lá a vida estável que eu sempre sonhei em ter, mas ei, eu não tenho nem um ano de formada e já queria viver no glamour? (Resposta: óbvio que sim)


Não me entendam mal. Não é como se a minha vida tivesse voltado a ser o terror que era na casa da minha primeira tia, com comida regrada e horário até pra tomar banho. O meu sogro e meu cunhado são ótimos, claro... Mas são apenas o meu sogro e meu cunhado. Não são, por exemplo, a minha cama, o tempero da comida da secretária lá de casa e muito menos a conchinha de Francisco. Sinto saudade dos meus livros, da minha escrivaninha, de almoçar no sofá de casa e até de ficar presa no elevador do meu prédio - sinto todas as saudades idiotas que batem quando a falta de alguma coisa tá realmente grande.

Depois de tantas mudanças e experiências nas casas de outras pessoas, eu tô de novo fora da minha zona de conforto. Apesar de estar recebendo todo o apoio possível, tá sendo complicado me adaptar. Talvez por conta de estar mais velha e me achar muito independente pra ainda ser tão dependente, nunca foi tão difícil estar tão longe de tudo que é meu. Morar com meu sogro e meu cunhado, dois homens muito bacanas, mas muito diferentes de mim em tudo, tem sido, de diversas formas, assustador. Eles fazem de tudo pra me deixar à vontade, mas ainda assim... Se tem uma coisa que eu aprendi sobre mim, é que não preciso ser mal tratada pra me sentir um peixe fora d'água.

Eu sou fora d'água naturalmente.