terça-feira, 7 de abril de 2015

Na estrada

Na primeira vez que eu me mudei, eu tinha 12 anos. 

Como meus pais sempre moraram no interior, quando chegou a hora de eu começar a 8º série, eles me enviaram pra estudar na cidade-grande-não-tão-grande que é São Luís. Então, eu não estava só me mudando; eu estava saindo da casa dos meus pais, da minha casa, pra morar com uma tia que não ia nem um pouco com a minha cara e que não tinha saco algum pra lidar com a adolescente emburrada que eu estava me tornando. Promissor, não é? Tinha tudo pra dar errado e deu mesmo, tanto é que quando eu tinha uns 16 anos, ela finalmente me expulsou de casa. 


Eu sei, é algo horrível, e olhe que tô poupando vocês de todos os detalhes sórdidos. Só toquei no assunto porque hoje em dia, juro, até acho graça da história toda e do fato de ela ter sido (e ser até hoje) muito mais imatura que eu. E também, cá entre nós, foi ali que a minha vida começou a melhorar. Mesmo sem saber, ela me fez o maior favor da minha vida.

Como eu virei uma sem teto, meu pai se viu obrigado a finalmente negociar o apartamento que ele vinha enrolando (e antes não tinha condições$) de comprar. Mas como todo bom apartamento na planta, esse levou anos até ficar pronto. Nesse meio tempo, eu fiquei morando na casa de um casal de tios - a meu contragosto, é verdade, considerando que eu fiquei bem traumatizada com a primeira experiência de morar na casa alheia. Nessa época, o baby brother também veio pra São Luís, então ficamos os dois testando a paciência dos meus tios, que resistiram bravamente e sempre nos trataram muito bem, obrigada. 

Lá pra 2011, baby brother e eu finalmente fomos morar no apartamento que meu pai comprou. Depois de muita bagunça e objetos perdidos, ficamos os dois lá, eu com 19 anos e ele com 16, aprendendo a cozinhar, varrer a casa e a dormir sem deixar a porta da sacada aberta. Que fase, meus amigos. A gente tinha muito ajuda da minha mãe, que passava temporadas com a gente; de uma prima, que passou mais uns dias por lá; de Francisco, que lavou muita louça nessa época. Mas né, estávamos sozinhos.


Agora em 2015, eu, achando pouco já ter morado em três casas tão diferentes ao longo dos meus parcos 23 anos de vida, me mudei de novo - esse post, na verdade, era sobre isso, mas acabou virando sobre minha vida inteira. A ordem natural das coisas é sim de que eu me mudasse, mas pra uma casa minha, não é? Afinal, eu já trabalho, tenho salário, posso me bancar... O problema é que, justamente por causa do trabalho, eu tive que vir morar em uma cidade do interior com o meu sogro e meu cunhado - e sem Francisco, o que torna tudo ainda mais estranho.

Na verdade, eu moro com eles durante a semana. Depois do expediente da sexta, eu encaro 4 horas de ferry boat e ônibus pra passar terminar o dia em São Luís e passar o sábado no meu apartamento, com meu irmão, ou no flat de Francisco; no domingo à noite, volto a rever o ferry e o busão e já durmo na casa do meu sogro.

Repito essa rotina em looping infinito, de novo e de novo. Viver de malas prontas não é lá a vida estável que eu sempre sonhei em ter, mas ei, eu não tenho nem um ano de formada e já queria viver no glamour? (Resposta: óbvio que sim)


Não me entendam mal. Não é como se a minha vida tivesse voltado a ser o terror que era na casa da minha primeira tia, com comida regrada e horário até pra tomar banho. O meu sogro e meu cunhado são ótimos, claro... Mas são apenas o meu sogro e meu cunhado. Não são, por exemplo, a minha cama, o tempero da comida da secretária lá de casa e muito menos a conchinha de Francisco. Sinto saudade dos meus livros, da minha escrivaninha, de almoçar no sofá de casa e até de ficar presa no elevador do meu prédio - sinto todas as saudades idiotas que batem quando a falta de alguma coisa tá realmente grande.

Depois de tantas mudanças e experiências nas casas de outras pessoas, eu tô de novo fora da minha zona de conforto. Apesar de estar recebendo todo o apoio possível, tá sendo complicado me adaptar. Talvez por conta de estar mais velha e me achar muito independente pra ainda ser tão dependente, nunca foi tão difícil estar tão longe de tudo que é meu. Morar com meu sogro e meu cunhado, dois homens muito bacanas, mas muito diferentes de mim em tudo, tem sido, de diversas formas, assustador. Eles fazem de tudo pra me deixar à vontade, mas ainda assim... Se tem uma coisa que eu aprendi sobre mim, é que não preciso ser mal tratada pra me sentir um peixe fora d'água.

Eu sou fora d'água naturalmente.

terça-feira, 24 de março de 2015

23 lições em 23 anos

No último sábado, dia 21, foi meu aniversário. Por causa do susto levei por meus pais terem sofrido um acidente de carro no mesmo dia (agora já tá tudo bem), não tive tempo nem de refletir sobre o que quer que signifique fazer 23 anos. Na verdade, meu aniversário passou e eu nem vi. Só agora a ficha parece estar caindo e, com ela, vieram as crises existenciais, as pilhas erradíssimas e a necessidade de registrar uma ou duas filosofias que venho acumulando desde que descobri que o mundo existe.

Esse post é a minha cara, mas se tornou ainda mais necessário depois do texto da Annoca. Afinal, o que é mais importante nessa vida que compartilhar sabedorias de boteco (que provavelmente serão reformuladas até o próximo aniversário)? Sendo assim, eis 23 lições que eu consigo extrair dos últimos 23 anos:

1. O tempo não cura tudo. Cura a maioria das coisas, graças a Deus, mas infeliz e sinceramente, não cura tudo. É por isso que algumas coisas sempre vão doer e algumas pessoas sempre vão te machucar e você tem que se acostumar e aprender a lidar com isso, se não quiser que essas cicatrizes que nunca fecham acabem definindo quem você é e como você escara o mundo à sua volta.

2. “Não posso fazer nada, eu sou assim” é uma ótima desculpa pra gente não se esforçar em melhorar aquilo que provavelmente já passou da hora de ser melhorado. Inclusive, ainda uso essa justificativa mais do que eu gostaria e escuto na mesma frequência.


3. Algumas pessoas nunca vão se encaixar na minha vida ou permanecer nela por muito tempo. E tudo bem. Conhecer alguém, construir e manter uma amizade dá trabalho mesmo, requerer esforço e atenção e não é todo mundo que está disposto a isso.  

4. Nunca subestime os seus pensamentos e preze sempre pela sua boa qualidade. Um pensamento ruim nos aprisiona, mas um pensamento bom nos liberta. 

5. “Já vi o fim do mundo algumas vezes e na manhã seguinte tava tudo bem”. Pra mim, isso acontece de maneira literal: muitos dramas nessa vida são possíveis de se curar ou de se amenizar consideravelmente com uma noite de sono.

6. Ninguém merece ser meu saco de pancada. Não adianta nada descontar minha raiva ou frustração nos outros, porque isso só vai fazer as pessoas se afastarem, o que vai me causar mais raiva e frustração ainda.


7. Nunca posso tomar decisões quando estou muito triste, com muita fome, com muito sono ou com muita raiva. São quatro situações em que o raciocínio está baixo e a força de vontade está pouca, o que contribui muito pra que o resultado final seja horrível.

8. Deixar as experiências passadas com alguém determinar o seu futuro é algo cômodo e até compreensível, mas que não pode perdurar eternamente. Você não pode tratar alguém com base na forma que foi tratado por outra pessoa, não pode se deixar traumatizar por uma situação ruim, não pode ter medo de se entregar só porque já deu errado uma vez.

9. A gente só sabe tentando. Se você não for atrás do que quer, nunca vai ter. Se você nunca perguntar, a resposta sempre vai ser não. Se você não der um passo à frente, nunca vai sair do lugar. 

10. Tá certo que o dinheiro não compra felicidade, mas poucas coisas na vida são tão felizes quanto comprar alguma coisa com o seu dinheiro, que você merecidamente recebeu por ralar o mês inteiro, se privando da soneca pós-almoço, passando horas e horas escrevendo petições e atendendo todo tipo de cliente. Comprar algo com o seu dinheiro é uma vitória.


11. Orgulho não leva ninguém a lugar nenhum. É por isso que eu vou atrás, eu choro, eu peço perdão, eu tento argumentar. Se não der, não deu, mas a minha parte, pelo menos, eu procuro fazer. 

12. Sabe aquela história que o amor é uma plantinha que tem que ser cotidianamente regada? Então, deixa eu contar pra vocês: é verdade. E não só regar, mas adubar, podar, por no sol, por na sombra, trocar de vaso quando o anterior ficar muito pequeno... Só assim a plantinha vai crescer, forte e saudável, e durar às vezes mais que a própria vida.

13. Conversando a gente se entende. O que não dá pra ficar é o dito pelo não dito, o ‘cada um entenda como quiser’, a conclusão mais errada sobre algo não devidamente esclarecido. Verdadeiras guerras civis poderiam ser evitadas se as pessoas simplesmente se importassem o suficiente ao ponto de conversarem de verdade umas com as outras. Até porque um dia essa bomba de coisas não ditas explode e aí, juro, você não vai querer nem estar por perto pra ver as consequências. 

14. Meus pais não são meus chefes carrascos, mas sim meus amigos. Eu não preciso mentir pra eles ou esconder as coisas. Eu tenho total liberdade para conversar com eles e mostrar a pessoa que eu sou porque a verdade é a seguinte: eles podem até não concordar comigo, mas sempre, sempre vão me apoiar. 

15. É só um dia ruim, não uma vida ruim. A gente vive de fases: às vezes tá tudo bem, daí piora, depois melhora muito pra em seguida voltarmos pro fundo do poço. O grande lance é não se desesperar e lembrar que o mundo continua a dar voltas. 


16. É melhor ser gentil do que ter razão. É um lema que eu encontrei em dois livros que li em 2013 e algo que preciso sempre estar me lembrando de aplicar – eu, como boa ariana que sou, tenho uma leve tendência a ser dona da razão, deusa absoluta da verdade. E tá errado, eu sei. E não é algo fácil de mudar em nós mesmo. Mas é uma mudança necessária. 

17. Ninguém nasce sabendo de nada e todo mundo sofre pra aprender alguma coisa. Eu não posso me sentir a pessoa mais burra do mundo simplesmente porque sou inexperiente.

18. A impulsividade é uma armadilha. É algo que pode me levar à falência, me afastar das pessoas, me deixar infeliz ou, pior, me tornar uma infeliz solitária e pobre. É algo com que, provavelmente, eu vou ter sempre que ter cuidado, porque é a minha cara agir sem pensar nas consequências. 

19. Todo mundo precisa ter alguém (ou alguéns) em quem confiar. É algo que te deixa mais leve, é uma saída quando tudo aparentemente estiver perdido. Ter em quem confiar é um plano B contra o auto boicote. O que eu sei, com absoluta certeza, é que ninguém pode viver bem se for solitário o tempo todo.

20.  Nem tudo é certo ou errado, preto ou branco, 8 ou 80. As coisas têm duas versões, dois lados, dois pontos de vista e saber enxergar isso é uma arte que eu ainda estou aprimorando, mas que, quando bem executada, sempre rende muito aprendizado.

21. Ter sempre um plano pra tudo é uma boa forma de se levar a vida. Isso não significa que tudo sempre dá certo, mas que sou metódica e perfeccionista. Essas duas coisas em excesso às vezes me levam à loucura, mas, quando dosadas corretamente, me trazem segurança e satisfação sem limites. 

22. Eu não sou melhor que ninguém, mas também não sou pior. Só que, enquanto eu não me aceitar e não me sentir confortável com a mulher que eu me tornei, não posso exigir que as pessoas ao meu redor façam o mesmo.


23. Engole o choro (ou, se você for maduro como eu, chore escondidinho) e vai viver, porque se você for esperar até as coisas serem fáceis pra só daí tomar alguma atitude, vai chegar aos 80 anos e se descobrir sentada no sofá da sala, sozinha, frustrada e ainda esperando.

terça-feira, 17 de março de 2015

Oito anos com ele

Quando eu conheci Francisco, ele tinha 13 anos, uma cara redonda, aparelho nos dentes e orelhas de abano - algo que poucos anos depois ele tratou de corrigir em uma cirurgia que o deixou excessivamente dengoso, como ele sempre fica até hoje sempre que tá doente. Ele era baixinho, embora não tenha crescido muito desde então. Sempre foi melhor que eu em todas as disciplinas e suas notas do ENEM mereciam ser expostas em um quadro na sala de casa.

A foto mais antiga que eu consegui achar nem é tão
antiga assim, até porque 2008 foi ontem, né, gente?
Ele sempre amou MPB e praticamente desconhece qualquer outro gênero musical. É cinéfilo de carteirinha, do tipo capaz de assistir ao mesmo filme um zilhão de vezes e achar interessante como se fosse a primeira vez. Quase não assiste séries, mas fato que seu maior defeito é preferir House a Grey's Anatomy - eu só perdoo porque é apenas a tendência natural de quase todo estudante de medicina, ele diz. É extremamente guloso e come de tudo, a qualquer hora, principalmente se envolver pouquinho de juçara, pizza ou camarão.

Francisco sempre foi acanhado pra assuntos românticos, mas é do tipo que se agarra a qualquer centímetro de intimidade que você lhe der. Era insuportável quando mais novo, do tipo que puxava o meu cabelo e me provocava só pelo simples prazer de me irritar. Com o tempo, se tornou alguém extremamente gentil e carinhoso, que respeita o meu jeito, minhas opiniões e minhas vontades. Aliás, não conheço alguém que permita mais às pessoas que elas simplesmente sejam como são: ele não te julga, não te olha feio, não tenta te mudar. Ele simplesmente te aceita.

Ele estava ao meu lado nos piores momentos da minha vida, mas não consigo lembrar de uma lágrima sequer que ele não me tenha ajudado a secar, porque uma vez que ele decide te deixar feliz, simplesmente consegue. É muito engraçado, até quando é besta e faz piadas da espécie pavê ou pra comer. É incapaz de me fazer uma surpresa porque não consegue guardar um segredo. Dança muito bem, de uma forma que eu jamais vou conseguir, mas é um cantor tão ruim que nem eu, que sou motivada pelos melhores sentimentos do mundo, consigo ouvi-lo por muito tempo. É muito orgulhoso quando quer ser, mas muito humilde em pedir perdão, muitas vezes sem nem estar errado.

Francisco é, de longe, a pessoa mais altruísta que eu conheço. É o tipo de gente capaz de passar o dia inteiro sendo escravizado trabalhando no hospital, mas, ao chegar em casa, sujo e esfomeado, dá meia volta e sai pra comprar um jantar pra mim - ou o cozinha, coisa que recentemente eu descobri que ele é capaz de fazer e muito bem. É o cara que deixa de comprar coisas pra si, mesmo que esteja precisando muito, só porque eu enlouqueci querendo aquela bolsa ou aquele sapato. É pra ele que qualquer pessoa pede qualquer favor a qualquer hora do dia - e ele sempre faz sem reclamar e satisfeito, simplesmente porque está ajudando alguém. É uma alma tão boa e prestativa que não percebe nem quando abusam dele por isso.

Ele sempre me deixa escolher o sabor da pizza, o restaurante que vamos, o filme que veremos no cinema e o lado da cama que eu prefiro dormir. Ele sempre me liga pra dar boa noite, me acompanha em todas as minhas aventuras e me obriga a cuidar da saúde e tomar remédios quando preciso. Ama crianças e isso é um dos motivos pelos quais ele vai ser um médico fantástico, do tipo que realmente se importa, toca nas pessoas e escuta as suas queixas. Adora animais e é capaz de passar o dia inteiro assistindo vídeos de bichos e me obrigando a assistir também, óbvio, porque ele é quase tão insistente e teimoso quanto eu.

Francisco não foi o meu primeiro melhor amigo nem o meu primeiro amor. 
Mas, definitivamente, é o último de ambos.
E eu? Eu sou, modesta e especialmente hoje, a pessoa mais abençoada do mundo.


Os meus melhores anos foram ao lado desse homem de 23 anos, com cabeça de um menino de 13 e alma de um senhor de 80. E eu sou muito grata por todos esses 2920 dias.

terça-feira, 10 de março de 2015

Feliz ano novo

Olha, eu jurei que não ia mais falar sobre 2014, que não cabia mais esse assunto porque, afinal, já se foram mais de dois meses de 2015... Mas a verdade é que o ano passado continuou rendendo muito após dezembro e só esse mês eu começo a me despedir. Passei muito tempo sem escrever sobre o que me acontecia e, coincidentemente, tudo aconteceu nesse período. Simplesmente o ano em que eu menos escrevi foi o ano em que eu mais vivi. Alguma relação entre esses dois fatores? Eu prefiro acreditar que não.

Só que, como tudo na vida, o tempo que eu deixei de escrever sobre as minhas desventuras rendeu consequências. A principal delas, eu acho, é que muita coisa se perdeu no esquecimento, principalmente se a memória em questão for a minha, que não serve pra lembrar nem o que eu almocei ontem, que dirá tudo que eu já vivi, por mais inesquecível que tenha sido. Eu preciso escrever se não quiser chegar aos 80 anos sentindo que tudo foi um grande nada. É por isso que esse ano eu não quero cometer o mesmo erro e também por isso que eu tô aqui, hoje, encerrando um capítulo antes de começar um próximo.

Por onde eu andei em 2014? É uma boa pergunta.

Andei por aí, fazendo 22 anos e finalmente entendendo que ser adulta tem muito mais desvantagens que vantagens, diferente do que meu eu de 15 anos jurava que seria. Ser adulto dói, é problemático, é um incômodo que nunca passa. Dá medo pra caramba e requer que você tenha muito peito pra assumir suas escolhas e suas responsabilidades. Ainda não sei fazer as coisas sem antes pedir permissão pro meu pai e, ao mesmo tempo que sinto que preciso sair do ninho e que já tenho condições de começar a fazer isso, me pergunto se não é cedo demais, se não vou voltar daqui 6 meses pedindo arrego e colo. Cá entre nós, ninguém quer ir embora pra voltar, né?

Em 2014 eu andei passando na OAB e descobrindo que estudar 14 horas por dia é desumano e que provavelmente estou fadada a nunca fazer concurso público porque não me vejo sacrificando minha vida em prol de estabilidade financeira. Andei cumprindo todos os rituais de formatura, com direito a casa cheia, amizade relâmpago com gente da minha sala com quem eu nunca tinha falado, chegar em casa 6h e comer McDonald's no café da manhã. Colei grau e me despedi da faculdade jurando que nunca ia sentir saudade, só pra depois quebrar a cara e chorar de nostalgia olhando fotos antigas.

Em 2014 eu andei rodando o mundo, conhecendo países, provando comidas, fotografando mais que em qualquer outro ano. Andei me mudando mais que nômade. Por causa de uma chance de emprego, saí do meu apartamento minúsculo, mas meu (do meu pai, ok), pra morar na casa no meu sogro, no quarto de hóspedes, numa cidade que eu não conhecia e onde eu (até agora) não conheço ninguém (e nem tenho boas perspectivas em relação a isso). Me senti sozinha pra burro e dormi chorando diversas vezes, até finalmente começar a atender que estar sozinha não necessariamente precisa significar que estou solitária.

Em 2014 andei passando os fins de semana na casa do meu namorado, como um casal que já ensaia um casamento, e vendo que morar junto pode ser um esforço de paciência e amor muito maior do que eu previ. Andei perdendo mais mais amigos do que fiz, mas muito, muito menos do que eu recuperei. Andei fazendo besteiras aos baldes e acertando pouquíssimas vezes na vida pra pessoal, só pra no fim descobrir que eu não precisava ter passado nem pela metade do que eu passei. Quem nunca, né?

Muita coisa aconteceu nesse quase um ano não documentado da minha vida, um ano que, pra mim, acabou mês passado e efetivamente começa em um março chuvoso, que veio mesmo pra lavar tudo de pesado que havia... Porque, se 2014 foi uma coisa, foi isso: pesado. Está difícil de engolir até hoje: teve muitos ganhos, é verdade, mas eu não posso ser ingênua e não admitir que foi um ano de muitas, muitas perdas - algumas delas, irreparáveis; outras, só o tempo e um punhado de paciência vai dizer. Depois disso tudo, de viver 365 anos em 365 dias e ver a minha vida mudar radicalmente, de uma maneira completamente imprevista, será que eu tô pronta pra seguir em frente?

Só tem uma forma de saber: 2015, senta aqui, vamos conversar.


terça-feira, 3 de março de 2015

Orgulho, preconceito e outras histórias

Ou: o dia que eu comecei a amar o personagem que todas já amavam, exceto eu. 

Quando eu pensei em começar um blog novo, a única coisa que eu tinha certeza é que eu ia falar sobre livros. Sempre fui muito frustrada porque no meu blog antigo eu não tinha esse espaço, já que a vibe de lá era outra e meio que não tinha nada a ver. Mas agora, meus amigos, eu meio que encontrei o meu lugar no mundo.

Primeiro de tudo, eu preciso admitir uma coisa que eu morro de vergonha, mas que vou dizer de uma vez pra ver se dói menos: eu nunca li Jane Austen.


Eu sei, eu sei. Pra ser completamente sincera, eu não sou lá a maior leitora de livros clássicos. Em minha defesa, eu digo que depois de passar anos na faculdade de Letras sendo obrigada a ler um milhão de clássicos escritos em galego português, a gente meio que perde o gosto pela coisa. Eu até ando me preparando psicologicamente pra superar esse trauma e talvez esse ano eu consiga, mas nos últimos três anos o total de livros clássicos que eu li foi: zero.

Outro fator que sempre esteve entre Austen e eu e que me incomoda muito é a ausência de edições realmente bonitas dos seus livros. Ainda que eu não tenha apego aos clássicos, o meu maior sonho é ter na minha biblioteca uma seção enorme só deles, em edições espetaculares e de dar inveja. Eu até tinha uma edição de O&P, mas é de bolso e, meu Deus, como eu odeio livros de bolso – além de eles ficarem horríveis da estante, causando uma desigualdade estética que quase não me deixa dormir à noite.

Dito isso, vocês podem perceber que eu estava no escuro quando fui ler O diário secreto de Lizzie Bennet. Nem a série do Youtube eu tinha visto. Eu não fazia ideia de quem diabos era Darcy e o porquê de ele provocar explosão de hormônios em todas as minhas amigas. Mas, vocês podem prever, o meu primeiro comentário sobre esse livro é: não sei se o Darcy da adaptação é igual/semelhante/tragicamente diferente do original, mas sei que EU QUERO ESSE HOMEM PRA MIM. Quero hoje, agora, deitado na minha cama e com uma taça de vinho branco na mão. Gente, por que vocês não me alertaram sobre o que eu estava perdendo?

Ok, eu fui alertada. Mas por que vocês não me forçaram? Não me torturaram, ameaçaram, puseram uma arma na minha cabeça até que eu conhecesse esse homem cujo único defeito é não ser real? Sério, nunca vou perdoar vocês por isso. E olhe que eu ainda nem li O&P – mas larguei de frescura e comprei qualquer edição pra ler logo de uma vez, por razões agora óbvias.


Além de me deixar perdida e completamente apaixonada pelo Darcy, todo o resto de O diário secreto de Lizzie Bennet é maravilhoso. Óbvio que eu não tenho moral pra falar a respeito da adaptação como adaptação, mas acho que isso não me impede de achar esse livro uma das coisas mais deliciosas que eu já li na vida. É leve, é engraçado, é sarcástico e foi perfeito pra me tirar de uma ressaca literária e me relembrar o porquê de eu amar os livros, afinal de contas.

A narrativa em primeira pessoa não é cansativa, nem presunçosa e, eu sei que vai parecer uma observação redundante, mas é tão própria de um diário! Chove livro por aí em formato de diário, mas poucos têm o jeito, o formato e o conteúdo próprios de um – mas esse tem e eu o abracei por isso. Achei a Lizzie é uma personagem bacana de acompanhar. Amei o ponto de vista dela sobre tudo. Aliás, eu me apeguei a quase todo mundo e quem me conhece sabe que, pra mim, um livro só me conquista se os personagens também conquistarem.

Essa história, sendo mera adaptação ou uma puta adaptação, me recuperou em um período que nem comprar livros eu queria (juro que isso aconteceu), tamanho meu desânimo, e eu vou ser grata eternamente por isso. Depois dessa experiência, prometo que lerei O&P e quantos mais livros da Austen forem possíveis. Mas, por favor, me deem um pouco de crédito e leiam O diário secreto de Lizzie Bennet em uma tarde chuvosa, deitados na cama (numa rede, no sofá, no chão da sala ou escondido no banheiro do trabalho) e com o seu Darcy imaginário deitado logo ao seu lado. É igualzinho ao paraíso, só que melhor.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

You can tell Jesus que eu voltei

Daí que eu resolvi começar um novo blog.

Provavelmente é o mais próximo que eu vou conseguir de zerar a vida a essa altura do campeonato, quando eu já tenho 22 anos (todos que têm mais que isso reviram os olhos nesse momento), pago minhas contas (ou pelo menos 80% delas) e provavelmente já conheci todas as pessoas mais importantes da minha vida (situação completamente hipotética que eu fiz com base nas minhas prováveis interações sociais pelos próximos 50 anos).

Eu estava no meio do sono, em uma das mil tardes de absoluto nada que eu já tive ao longo dos meus mencionados longos anos de vida, quando de repente abri os olhos e percebi que já tinha tudo em mente: o título do blog, os marcadores dos textos e sobre o que seria o primeiro post.

Não estou dizendo que tive A ideia mais genial de todo o século, até porque ela nasceu no meio de um sono profundo e, cá entre nós, há muito tempo eu já percebi que preciso parar de decidir coisas quando eu tô com sono. Mas, definitivamente, foi uma dessas ideias que já nascem prontas e, por mais que sejam um desperdício de pensamento, são impossíveis de serem aperfeiçoadas porque meu cérebro, esse preguiçoso, meio que já entendeu que fez o trabalho completo.

Então, foi dessa forma que eu terminei o meu relacionamento sério com o Verdade mal contada, que Deus o tenha, e iniciei um relacionamento aberto com o Don't judge my mess, nome que eu não sei de onde veio, mas que não consigo deixar de achar apropriado para a minha pessoa e minha propensão de sempre contaminar tudo à minha volta com uma baguncinha saudável.

Então, essa sou eu e esse é meu blog que, sem pretensão alguma, eu começo com a mera intenção de ter espaço pra falar sobre o que me der na telha - esse negócio de guardar minhas opiniões pra mim mesma é um nível de evolução humana que eu jamais atingirei. O que vocês vão encontrar por aqui? Sinceramente, e isso não é marketing barato, a gente (sim, não só vocês, mas a gente) vai precisar esperar o próximo post pra saber. 

No fundo, eu sei que esse meu blablablá não veio carregado de muita substância, então meio que já dá uma ideia de que esse espaço promete muito pouco. Mas, sei lá, o pouco às vezes é mais que suficiente (encerro com filosofia de boteco, porque é assim que os mais íntimos me reconhecem).